Esta semana chega com cara de final de campeonato brasileiro e com a sensação incômoda de que 2026 já entrou em campo antes mesmo do réveillon. O governador Fábio Mitidieri resolveu rasgar o regulamento informal do jogo político e mostrar que, para ele, o apito inicial pode soar em plena temporada de festas. Enquanto o Brasil inteiro conta os dias para montar a ceia, o governo do Estado transforma dezembro em mês de anúncio de pré-campanhas, rearranjos de gabinete e demissões cirúrgicas de secretários que trocam a caneta oficial pelo santinho eleitoral. É a antecipação política jogada no modo turbo, sem intervalo, sem acréscimo e sem esperar a virada do ano.
A movimentação começa pela debandada prevista para a próxima sexta-feira. Seis secretários devem deixar os cargos para disputar as eleições de 2026. A lista é robusta e simbólica. Zezinho Sobral, vice-governador e secretário da Educação, deixa para trás a paz zen que sempre vendeu, um tecnocrata cordial que conseguiu melhorar indicadores sem brigar com ninguém. Cláudio Mitidieri, da Saúde, sai com a marca de gestor operativo, embora com a sombra eterna do sistema que nunca se ajusta. Jorginho Araújo deixa a Casa Civil, posição que exige mais articulação do que cerimônia. Daniela Garcia abandona a pasta das Mulheres depois de episódios que misturam firmeza policial com ímpeto intempestivo. Marcos Franco sai do Turismo sem jamais ter saído realmente do anonimato administrativo. Venâncio Fonseca, da Articulação Política, abandona a cadeira que exige jogo de cintura e repertório rápido, talentos que ele sempre exibiu com a naturalidade de quem entende a liturgia do poder. E a provável saída de Capitão Samuel da Fundação Renascer fecha o bloco. Um gestor que encontrou na instituição a extensão natural do trabalho social que já fazia.
Mas o que realmente acende os refletores não é a lista de desligamentos. É o movimento programado para sábado. Fábio deve oficializar aquilo que até agora circulava como balão de ensaio nos bastidores. A chapa de 2026 será anunciada com uma antecedência inédita na política sergipana. Alessandro Vieira aparece como possível pré-candidato ao Senado, embora desperte mais dúvidas do que entusiasmo no núcleo duro do governo. É visto como jogador que evita o ataque, recua demais a bola e raramente arrisca a jogada que muda o placar. Do outro lado, André Moura surge como o titular indiscutível do time governista. Goleador das emendas, articulador pesado em Brasília, jogador que conhece o campo nacional como quem decorou cada linha da prancheta. André entra para decidir, não para compor. Jefferson Andrade, discreto e silencioso, mas de articulação milimétrica, assume com naturalidade a posição de pré-candidato a vice. Uma chapa montada em pleno dezembro de 2025, antes mesmo do réveillon, como se o calendário eleitoral fosse enfeite de Natal pronto para ser retirado da árvore.
O governador, que se vê como técnico de duas equipes, tenta equilibrar o tabuleiro majoritário com a gestão administrativa. No campo eleitoral, escalou Jefferson Andrade com a convicção de quem o vê como o maestro do meio-campo. Jefferson é articulador junto ao Judiciário, ao Tribunal de Contas, ao Executivo e ao interior. Sabe fazer política sem espalhafato. Não à toa, virou escolha natural, ainda que tenha o estilo de quem entra em campo calado e sai com assistência registrada no placar.
André Moura é peça rara, desses jogadores que qualquer técnico disputaria a tapa. No linguajar do futebol, é o meia que bate o escanteio com precisão cirúrgica, corre para a área e ainda cabeceia para o gol. Um articulador nacional de primeira classe, que transita em Brasília com a naturalidade de quem lê uma bula de remédio: entende cada vírgula, sabe a dose exata de cada movimento e nunca aplica remédio demais nem de menos. Agora se prepara para deixar três secretarias no Rio de Janeiro para abraçar sua campanha em Sergipe, um gesto ousado, calculado e que mostra o tamanho da confiança que ele tem no próprio jogo e o tamanho do receio que provoca nos adversários.
Já Alessandro Vieira, possível segundo nome para o Senado, surge como jogador que inspira receio interno. Técnico, porém morno segundo a ala governista. Joga para trás, evitou confrontos que poderiam fortalecê-lo e, por isso, não é unanimidade. Este é o nome que Fábio deve guardar no bolso por mais algum tempo, talvez como peça de reposição, talvez esperando se decidir entre ele e Rogério Carvalho, o pássaro grande que circula bem em Brasília, tem trânsito com Lula, fala com o interior e movimentaria a técnica política com impacto real e perigo de gol.
No campo administrativo, o governador precisa substituir peças-chave. Zezinho Sobral deixa a Educação com saldo positivo, e encontrar alguém à altura será tarefa árdua. Educação não é secretaria que se entrega a aventureiros, e Zezinho provou que serenidade e técnica funcionam melhor do que discursos inflamados. A saída de Jorginho Araújo da Casa Civil abre espaço para Dr. Luiz Mitidieri, pai do governador, nome respeitado, de inteligência reconhecida desde os tempos de faculdade. A substituição tardia, mas necessária, promete dar ao governo estabilidade e previsibilidade política.
A saída de Cláudio Mitidieri da Secretaria de Saúde altera profundamente o estádio governista. Cláudio foi mais que gestor, foi articulador de primeira linha, daqueles que conseguem costurar política e técnica sem transformar a secretaria em trincheira. Sob seu comando, a Saúde saiu do discurso e entrou na prática, especialmente com o avanço decisivo do Hospital do Câncer, projeto que ele tirou do papel com obstinação de cirurgião e paciência de diplomata. Sua atuação firme deixa um vácuo estratégico e, nos corredores do Palácio, já circula o nome da secretária de Ação Social, primeira-dama e esposa do governador Érica Mitidieri, como possível substituta. A movimentação é tratada com sigilo, mas a ventilação é real e crescente, sinal de que Fábio pode apostar numa solução de casa para manter o ritmo e o controle político da pasta mais sensível do governo.
A saída de Daniela Garcia da Secretaria das Mulheres devolve ao governador um desafio imediato. A pasta exige equilíbrio fino entre sensibilidade e firmeza, e Daniela, delegada por natureza, acabou misturando com frequência o rigor policial com a política de gênero, o que gerou atritos desnecessários. O episódio recente envolvendo um cantor em Maceió escancarou esse descompasso e expôs a fragilidade da condução. Agora o governo busca um nome capaz de devolver estabilidade, reconstruir a imagem da secretaria e dialogar com o público feminino com mais técnica e menos ímpeto. O cargo, estratégico e simbólico, precisa de alguém que compreenda a pauta para além da autoridade da farda.
O Turismo perde Marcos Franco, um jogador que passou quase invisível em campo. Sua gestão só ganhou fôlego graças às investidas diretas de Fábio e ao trabalho consistente de Daniela Mesquita, além da energia incansável de Fabiano Oliveira, o Rei da Noite, apontado como substituto natural e capaz de injetar o dinamismo que a pasta tanto precisa. Marcos agora aposta numa candidatura a deputado federal com apoio ralo. Sem o suporte de Juca de Bala em Laranjeiras e de Petinho em Riachuelo, deve encarar uma campanha solitária, arriscada e com potencial limitado de votos, como atacante que entra em campo sem assistência, sem torcida e com pouquíssima bola para jogar.
Na Articulação Política, Venâncio Fonseca deixa vácuo difícil de preencher. Inteligente, sarcástico, rápido, conhecedor dos subterrâneos e dos salões da política, Venâncio é daqueles que fazem o governo parecer mais esperto do que realmente é. Encontrar alguém com trânsito na Assembleia, no interior e entre os grupos sociais será tarefa para poucos. Por fim na Fundação Renascer, por sua vez, aguarda nome técnico para garantir continuidade ao bom trabalho de Capitão Samuel.
O governador deve anunciar o novo secretariado até o dia 15 e, junto com ele, um efeito dominó no segundo escalão. A máquina pública será reorganizada não mais como tabuleiro de xadrez, e sim como técnico que decide trocar meio time no intervalo. É substituição, reposicionamento e mudança tática tudo ao mesmo tempo. Fábio sabe que não pode errar nenhuma escalação. Do outro lado do campo, a oposição ainda parece sem esquema definido, mas corre, treina e mostra fome de bola. O jogo de 2026 já começou e cada escolha agora vale como gol nos acréscimos.
Começa então o campeonato antecipado de 2026. O governo entrou em campo antes do apito inicial, abriu a rodada sozinho e agora precisa provar que não queimou a largada. Pode golear com autoridade ou escorregar na própria pressa como atacante afobado na pequena área. O relógio político corre no modo acréscimos infinitos e, desta vez, não tem descanso no vestiário. Cada substituição muda o jogo, cada nome anunciado altera o placar, cada erro vira replay eterno. Boa sorte aos jogadores, porque a torcida já está nas arquibancadas, fazendo barulho, analisando escalação e esperando para ver quem vai levantar a taça e quem vai pedir VAR antes da hora.




