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Editorial – Priscila, Valmir e Jefferson: quando a política respira segredos

Se política em Sergipe já é um tabuleiro instável por natureza, volátil como espuma de mar na maré alta, a fase atual parece ter avançado para um modo avançado que mistura xadrez, dama e aquele Lego que sobra peça e ninguém sabe de onde veio. De repente, conselheiros aparecem no tabuleiro como bispos promovidos, possíveis vices surgem como cavalos misteriosos, e quando você acha que entendeu as regras, alguém recoloca o cavalo no lugar da torre, troca a rainha de lado e ainda diz, com a maior naturalidade do mundo, que “faz parte da estratégia”. É o tipo de jogada que faz o público prender a respiração e pensar: isso é planejamento ou improviso? E é aí que a partida fica verdadeiramente interessante.

Comecemos pela figura que ocupa os holofotes: Priscila Felizola. Diretora do SEBRAE, filha do ex-governador Belivaldo Chagas e enteada do conselheiro Flávio Conceição. Cresceu politicamente dentro da sala de máquinas, atravessou corredores que muita gente só entra com convite e não precisou bater na porta para participar das conversas. Morou com conselheiro, é casado com um conselheiro e segue ocupando um espaço que parece ter vista privilegiada para o bastidor institucional. Isso não é fofoca. É quase ata notarial da vida pública. Não é rumor. É biografia política passada em horário nobre.

Aí entra em cena o jornalista Habacuque Vilacorte, que solta uma nota dizendo que Valmir de Francisquinho e Priscila Felizola ainda vão tirar o sono de muita gente. A mensagem não chega como notícia. Chega como aviso prévio. Não soa como jornalismo. Soa como entrega registrada na portaria do poder com assinatura e hora marcada. Em Sergipe, ninguém solta um recado desses do nada. Aqui, a coincidência só existe quando todo mundo finge que acredita. E neste caso não precisa de lanterna para enxergar quem acendeu o fósforo.

Do outro lado do tabuleiro aparece Jefferson Andrade, deputado estadual, presidente da Assembleia e nome ventilado como vice de Fábio Mitidieri. Filho do conselheiro Ulisses Andrade. Aqui não se fala de parentesco. Se fala de estrutura. É uma linha direta que atravessa gabinetes, conselhos, vice-governadorias, sucessão, influência e alianças. Tudo com a naturalidade de quem serve caranguejo na mesa e já sabe de cor onde cada convidado vai sentar.

É aqui que surge a pergunta que todo mundo pensa e quase ninguém diz em voz alta: onde exatamente fica Priscila nessa história? Porque se Habacuque sinaliza Priscila como vice de Valmir e Jefferson já é citado como vice de Mitidieri, o tabuleiro deixa de ser jogo e vira acrobacia política. Uma disputa silenciosa para ver quem sobe a escada, quem desce pelo elevador e quem fica parado no hall fingindo que está só esperando.

Então chegamos à vaga do Tribunal de Contas. Não há confirmação oficial, mas a política em Sergipe raramente precisa de carimbo para se tornar certeza. Uns apontam Maísa Mitidieri, irmã do governador. Outros juram que o cenário mudou com o nome de Priscila circulando. Aí nasce a dúvida que ninguém escreve, mas todo mundo cochicha: Jefferson poderia ser deslocado para o Tribunal para abrir caminho para Priscila? E se ela subisse, como explicar mais um sobrenome naquela sala onde já existem laços diretos, indiretos e sentimentais com o órgão? Seria escolha institucional ou uma obra inédita da arquitetura genealógica aplicada ao serviço público?

Mesmo com isso tudo, é preciso reconhecer um detalhe: Jefferson Andrade tem articulação própria e trânsito político real. Não é um espectador. É jogador. Não seria absurdo vê-lo ascender por mérito e contexto. Mas ainda assim permanece no ar a sensação coletiva de que, em Sergipe, sobrenome pesa tanto quanto voto. Às vezes até mais. O eleitor percebe, comenta e volta para casa com a impressão de que as peças já estavam no tabuleiro antes da partida começar.

No fim, a política sergipana parece menos uma eleição e mais um Lego com peças trocadas no meio da montagem. Algumas encaixam. Outras sobram. Outras ninguém sabe de onde vieram. Às vezes desmonta e recomeça. Às vezes se ajeita só com olhar. Às vezes basta um almoço na fazenda, uma bolacha caseira, uma visita sem foto oficial e pronto: o tabuleiro inteiro se reorganiza enquanto o povo tenta entender em que momento a partida virou novela.

A dúvida está posta e ninguém finge que não viu. Quem sobe. Quem desce. Quem troca de cadeira. Quem recebe convite vitalício. Quem fica na sala de espera até segunda ordem. Se a resposta vier da nota de Habacuque, da visita de Valmir a Belivaldo, dos laços de Priscila com Flávio, ou do silêncio estratégico de Jefferson e Ulisses, saberemos. Mas em Sergipe o tempo fala baixo e o recado costuma chegar primeiro nas entrelinhas do que no Diário Oficial. No final das contas, aqui a política não se escreve com caneta. Se escreve com marcador fluorescente, para garantir que até quem tenta desviar os olhos acabe enxergando.

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