Mais uma vez, a advocacia sergipana assiste a um espetáculo embaraçoso em torno do Quinto Constitucional. O julgamento no TRF5 foi adiado novamente, e o presidente da OAB/SE, Danniel Costa, correu para os microfones no mesmo dia, acusando “interesses alheios” como se fosse o guardião da moralidade. Mas esqueceu de admitir o detalhe central: o atraso nasce da própria teimosia dele em bancar regras tão questionáveis quanto frágeis, que não resistiriam a um semestre de faculdade. É a velha arte de apontar o dedo para fora quando o problema está no espelho.

É quase cômico ouvir do presidente da Ordem o discurso de que “não permitirá que a advocacia seja prejudicada”, quando o maior prejuízo até agora nasce, justamente, da gestão que ele comanda. O adiamento em si não feriu a classe, o TJ continua funcionando com um desembargador experiente e respeitado na cadeira. O que realmente machuca a advocacia é a tentativa de impor um modelo de escolha contaminado por manobras institucionais, que mais parece receita de pastel de feira: recheio duvidoso, massa frágil e risco de azedar antes mesmo de chegar à mesa..
A fala do presidente da OAB/SE soa menos como defesa da advocacia e mais como tentativa de terceirizar responsabilidades, personalizando um debate que deveria ser jurídico e institucional. O discurso de bravura esconde o desconforto verdadeiro: admitir que o modelo adotado pela própria gestão não se sustenta em pé.

Nesse contexto, a atuação do advogado Aurélio Belém, que levou o caso ao Judiciário, não é ato de heroísmo, mas de lucidez. Sem sua iniciativa, o processo seguiria em marcha forçada, empurrando a classe para um caminho torto e sem retorno. Ele apenas vocalizou um sentimento que ecoa nos corredores da advocacia: a defesa do voto direto e transparente.
O que se espera agora não são entrevistas inflamadas, mas humildade institucional. O presidente precisa engolir o orgulho, reescrever o edital e devolver à classe o direito de escolher com clareza e legitimidade. Insistir no erro não fortalece sua liderança; apenas desgasta a Ordem e alimenta a percepção de que projetos pessoais estão sendo travestidos de causa coletiva.
A advocacia sergipana não precisa de discursos de guerra nem de enredos dignos de novela mal produzida. Precisa de algo simples e essencial: respeito, transparência e um presidente capaz de reconhecer quando errou e ter coragem de corrigir a rota antes que o barco afunde de vez.