As eleições da OAB para o Quinto Constitucional terminaram há menos uma hora, mas a Comissão Eleitoral levou exatos vinte minutos para divulgar o resultado, um gesto raro de velocidade numa instituição acostumada a fazer atas com paciência monástica. Foram quarenta e cinco dias de campanha intensa, civilizada e surpreendentemente madura, em que os vinte e oito candidatos se comportaram melhor que muito parlamentar em semana de votação apertada. A advocacia sergipana, com seu humor peculiar e seus grupos silenciosos, definiu a lista sêxtupla que seguirá agora para o Tribunal de Justiça. E entre números e surpresas, dois nomes chamaram atenção pelo que representam, um pela força natural, outro pela força crescente: Fabiano Feitosa, que consolidou posição robusta, e América Nejaim, a surpresa que só surpreende quem não acompanha a advocacia real.
O resultado mostrou um colégio eleitoral atento e participativo: Márcio Conrado liderou com 2.597 votos; Fabiano Feitosa veio logo atrás, com 2.491 votos, provando que carisma e articulação ainda contam; América Cardoso, com impressionantes 1.929 votos, confirmou o que este jornalista já alertava, quando a advocacia enxerga legitimidade, ela responde; Marília Menezes marcou 1.837 votos; Carla Carol, 1.792; e Kleidson Nascimento, 1.777. A ausência de Maurício Gentil na lista final, apesar da expressiva votação, mostra o quanto o novo desenho das cotas reorganiza o tabuleiro de maneira que nem sempre coincide com a expectativa das urnas, mas que, para muitos, corrige distorções históricas.
Com a lista formada, inicia-se a fase menos romântica do processo: o caminho silencioso pelos gabinetes do Tribunal. A partir de agora, relatórios, atas e votos deixam de protagonizar; entram em cena o histórico de atuação, a capacidade de diálogo, a firmeza institucional e aquele elemento sempre comentado, nunca assumido: o peso simbólico de cada nome. Márcio Conrado chega com a autoridade de quem liderou a votação e representa estabilidade. Fabiano avança com a serenidade de quem conhece os corredores da advocacia e sabe que prestígio real não se improvisa. América traz a energia rara de quem cresce sem empurrar ninguém e isso, no Judiciário, impressiona mais que fama antiga. Marília aporta equilíbrio técnico e discrição estratégica, qualidades que costumam falar alto em processos de cúpula. Carla Carol surge com a força de uma advocacia moderna, articulada e consciente de seu espaço. E Kleidson completa o sexteto com a legitimidade de quem mobilizou grupos importantes e carrega uma representatividade que o Tribunal não pode ignorar. Cada um chega com algo próprio e é justamente essa diversidade de perfis que torna o próximo capítulo tão interessante.
O TJSE transformará os seis nomes em três. É um processo técnico, jurídico e institucional, mas, como em toda escolha de cúpula, também envolve leituras políticas, percepções internas e critérios que não cabem em edital. Quando a lista tríplice for formada, seguirá para o governador Fábio Mitidieri, que exercerá o poder mais decisivo da cadeia: o de escolher o futuro desembargador, alguém que permanecerá no cargo por décadas e influenciará a estrutura do Judiciário sergipano. Agora começa a fase das visitas, conversas e apresentações formais, o lobby legítimo, inevitável e, sim, democrático, desde que feito às claras. Cada um dos seis candidatos tentará mostrar não apenas quem é, mas o que pode acrescentar ao tribunal.
O processo deve levar entre trinta e quarenta e cinco dias. Será longo, tenso e acompanhado com lupa pela advocacia. A pergunta que paira sobre tudo é simples, mas decisiva: a escolha final refletirá a força dos votos, a força das ideias ou a força das articulações? A resposta virá em breve. Até lá, seguimos acompanhando, com bisturi, ironia e a velha obstinação de quem acredita que o Quinto Constitucional revela muito mais sobre a democracia do que qualquer discurso de posse.




